A Coragem Estratégica na Advocacia: Por que a Briga Pela Briga Não é Virtude | Marco Aurélio de Almeida Advocacia

A Coragem, a Agressividade e o Desafio das Profissões Modernas

Algo que tenho percebido nas profissões, começando pelo Direito, mas que hoje parece se espalhar de forma epidérmica: uma confusão perigosa entre a virtude da coragem e a performance da agressividade.

Noto que profissionais com menos repertório tendem a valorizar o conflito como um fim em si mesmo. Divulgam a "briga pela briga" como se fosse o ápice da competência.

O que vemos, muitas vezes, não é a coragem.

A Visão de Aristóteles e o Justo Meio

Para Aristóteles, em Ética a Nicômaco, a virtude da coragem é o "justo meio" (mesótes). Ela é o equilíbrio preciso, posicionado entre dois vícios: a covardia (a deficiência de coragem) e a temeridade (o excesso de coragem, a leviandade impulsiva).

Essa performance que observamos é, na verdade, uma armadura. É o escudo retórico da temeridade, erguido quando falta conteúdo, quando a insegurança sobre o próprio preparo técnico precisa ser mascarada pelo ruído do confronto.

A Coragem Real e o Valor da Estratégia

A coragem real, claro, é fundamental. O profissional precisa dela.

Contudo, a verdadeira sabedoria não reside em "comprar" todas as brigas, mas em saber quando uma batalha vale a pena ser lutada. A coragem genuína não é reativa; ela é estratégica.

Escolher não entrar numa disputa desnecessária não significa, necessariamente, ser covarde.

Encontramos essa mesma lógica na tradição bíblica: quando Herodes ameaçou a vida do menino Jesus, Deus não ordenou que José enfrentasse os soldados; a ordem divina foi fugir para o Egito. A preservação do propósito era mais importante que o espetáculo do confronto.

O Bom Combate e a Maturidade Profissional

Falo isso com propriedade. Como advogado, aprendi a "brigar". Mas aprendi, principalmente, a reservar esse dispêndio de energia apenas para quando estou diante do bom combate.

Descobri que, no final do dia, mais importante do que parecer corajoso para a plateia é ser comprometido com o cliente. E muitas vezes, o comprometimento exige a paciência da estratégia, e não o barulho do impulso.

A Natureza da Coragem Genuína

• A coragem genuína é técnica.
• A coragem genuína é serena.
• A coragem genuína sabe a hora de agir.

Ela sabe, principalmente, que coragem não é leviandade.

Publicado em: 23/10/2025